quarta-feira, 30 de junho de 2010

DOR: ASPECTOS FISIOPATOLÓGICOS

Dor aguda: pode ser definida como um conjunto complexo de experiências sensitivas e emocionais desagradáveis em respostas  traumáticas, autonômicas, psicológicas, emocionais e comportamentais. Pode sempre ser produzida por um estímulo lesivo, mas pode atingir vias somáticas superficiais e profundas, vísceras e sistema nervoso periférico ou central. Dor Crônica é a que apresenta duração maior que 3 meses ou que é mantida após a resolução da doença. Nas estatísticas, a dor é um dos sintomas que mais levam pacientes à procura de hospitais e unidades básicas de saúde.

Fisiopatologia da Dor
Primeiramente, um sistema deve regular as sensações do organismo e é pelo sistema nervoso. É o sistema somatossensorial.  Este sistema contém vias que transmitem informações de toque, pressão, temperatura, dor, vibração, posição e movimentação de partes do corpo. As fibras da dor, entram no mesencéfalo e projetam-se para à amígdala e córtex límbico. Pode-se dizer que o fator emocional da dor é produzido também nesta região. A medula espinhal atua como via de ativação entre as conexões que enviam e recebem os sinais dolorosos e ativam outras vias de retração que geram reflexo em resposta à dor. Terminações livres das fibras C não mielinizadas e fibras Aδ mielinizadas finas da pele transmitem informações sensoriais em resposta aos estímulos químicos, térmicos e mecânicos. Entretanto, distúrbios inflamatórios também sensibilizam vias aferentes sensoriais profundos e assim, provocam dor oriunda de estimulos mecânicos. A sensibilização da dor pode ocorrer quimicamente ou pelo menos se potencializada por meios químicos, principalmente pela bradicinina, prostaglandinas e leucotrienos (fig.1).
Na maior parte das ocorrências dolorosas crônicas, já não há presença de componentes químicos, senão da prostaglandina PGI2 e em menor grau PGE2. Contudo, parte dos estímulos podem ser deflagrados pelo estímulo das vias aferentes, sem a presença de substâncias potencializadoras da dor. As prostaglandinas que atuam como triggers de dor são oriundas do catabolismo do ácido araquidônico ou araquidonato, que sob ação das enzimas ciclooxigenases 1 - constitutiva -  e ciclooxigenases 2 - indutiva -  geram as PGI2, que tem como principais funções: hiperalgesia, vasodilatação e antiagregante plaquetária. Há um limiar de dor que, em presença de PGI2 acaba por diminuir ocasionando maior potencialização da sensação dolorosa. Este limiar é geralmente modulado ou aumentado, quando sofrem interferências dos antinflamatórios não esteroidais. Estes, atuam bloqueando a COX1 e COX2, consequentemente inibindo a formação de PGI2 e aumentando o limiar doloroso (fig.2).



Figura 1. Mostra esquematicamente os estímulos fisiológicos e patológicos que induzem e conduzem dor.



Figura 2. Limiar de dor. Quanto maiores os níveis de PGI2, menor se torna o limiar, portanto, mais sensibilidade e maior a dor. O inverso, quanto menores os níveis de PGI2, maior se torna o limiar, portanto, menor é a sensibilidade à dor.


Bibliografia

McPHEE, SJ.; GANONG, WF. Fisiopatologia da doença: uma introdução à medicina clinica. 5ª Ed. McGraw-Hill - LANGE, 2007.

GANONG, W. F. Review of Medical Physiology - 22ª edition The McGraw-Hill Companies, Inc - LANGE. 2005.

SAKATA, RK.; ISSY, AM.; GAZI, MCB. Dor aguda; SAKATA, RK.; ISSY, AM. Principais síndromes dolorosas crônicas, in: CLÍNICA MÉDICA - LOPES, AC.; JOSÉ, FF.; LOPES, RD. ED. MANOLE. Série Nestor Schor.  2007.

VANE, et al Cyclooxygenases 1 and 2. Annu Rev Pharmacol Toxicol, 38:97-120. 1998.

MAYYAS, F.; FAYERS, P.; KAASA, S.; Dale, O. A Systematic Review of Oxymorphone in the Management of Chronic Pain. J Pain Symptom Manage, 39:296-308, 2010.

REIS JUNIOR, D. (Figura 2) - Eicosanóides, AINES e Inflamação. Material didático Instrucional, 2009.



terça-feira, 29 de junho de 2010

FEBRE - ABSTRACT DA FISIOPATOLOGIA


A febre é uma manifestação que desperta atenção de pacientes e profissionais da saúde. Está presente em vários tipos de distúrbios, mas principalmente, entre as infecções e processos inflamatórios, muitas vezes, independentes de infecções. Até certo ponto, é considerada um mecanismo benéfico, que auxilia na monitoração do estado de um paciente. Conceitualmente, a febre é o aumento da temperatura basal corporal. É um sinal de que alterações na homeostasia dos processos de liberação de calor corporal estão se intensificando e se desajustando. Mais comumente, quando falamos de febre, falamos de inflamação, não só pela manifestação do aumento da temperatura corporal, mas também, pela presença de substâncias importantes que são o gatilho inicial e a amplificação do estado inflamatório. Algumas citocinas - IL-1, IL-6 e TNF-alfa - são produzidas por leucócitos, além de outras células, liberadas na circulação sanguínea e se espalham pelo organismo. Ambas produzem febre ao interagirem com seus respectivos receptores vasculares no centro termorregulador do hipotálamo, popularmente faz-se analogia denominando-o termostato. A IL-1 pode também ser induzida pela IL-6, o que leva à fase aguda da inflamação e isto leva a transmitir a informação ao hipotálamo anterior, passa pelo hipotálamo posterior, até o centro vasomotor. Isto resulta estimulação simpática e vasoconstrição cutânea e por conseguinte redução da dissipação do calor = febre.




Figura 1 - Mostra os mecanismos, reações e os efeitos provocados pela febre e seus mediadores bioquímicos.



Figura 2 - Representa os participantes da inflamação aguda.

Esta é a fisiopatogenia da febre:

infecções, toxinas, imunocomplexos, neoplasias culminam com altos níveis de IL-1, TNF-alfa e IL-6. Esta última, por sua vez ativa o hipotálamo, juntamente com as prostaglandinas (E), ativam o centro vasomotor. Por conseguinte, há ativação simpática, vasoconstrição cutânea e diminuição da dissipação do calor, isto é febre.

Recomendações em caso de febre: beber muito líquido, monitorar constantemente, não é necessário pânico e nem medidas medicamentosas com afobação; afira a temperatura, se mais de 36,5 º C, um bom banho e em caso de persistência, algumas gotinhas de antitérmico e procurar ajuda médica, em caso de a febre não baixar com todas estas medidas.


Bibliografia:

ROBBINS. Inflamação e reparação in: Patologia estrutural e funcional 5ª edição, Guanabara Koogan, 45-83, 1985.

GANONG, WF; Regulação central da função viceral in: Fisiologia médica, editora McGrawHill, 20ª edição, 209-230, 2005.

McPHEE, SJ.; GANONG, WF.; Distúrbios do pâncreas exócrino in: Fisiopatologia da doença: uma introdução à medicina clínica, editora mcGrawHill, 5ª edição, 367-388, 2007.


segunda-feira, 28 de junho de 2010

DIABETES - FISIOPATOLOGIA E ETIOPATOGENIA

Diabetes mellitus tipo 1 - geralmente associado ao tipo de doença auto-imune (doença auto-imune): Está fortemente associado ao complexo HLA, desenvolvendo-se quase exclusivamente em indivíduos que possuem predisposição em  expressar moléculas  geradoras da resposta imune, denominadas DR3 ou DR4 ou ambas. Há forte ligação na expressão destas moléculas relacionadas ao gene DQB, o qual possui alelos DQB1-0302 e DQB1 0201. Estas moléculas são as responsáveis por predispor um indivíduo ao DMT1 enquanto o alelo DQB1-0602 é eminentemente um gene protetor que atua como modulador. NE verdade, predisposição genética múltipla é um fator importantemente contribuinte e necessário, mas não suficiente para causar a doença. Outros fatores como os ambientais (ainda pouco definidos) estão relativamente associados e podem dar início ao processo autoimune nas células β, engatilhando o desenvolvimento da doença. Ainda, dentro do contexto imune, uma insulite oriunda de etiologia viral ou tóxica pode atingir células β de forma progressiva cansando destruição das células β pancreáticas. A intensidade da resposta imunológica seria determinada pelos genes HLA que conferem susceptibilidade ou proteção e pelo nível de resposta em citocinas, que também pode ser geneticamente determinada. A insulite é um processo inflamatório que leva à destruição das células β envolve a imunidade celular e com isto, consequentemente há manifestação de linfócitos T (“helper”, citotóxico/supressor, células “natural killer – NK”) que interagem com células apresentadoras de antígeno (neste caso, as células β), o que culmina com a secreção de citolisinas e certamente ao processo de apoptose das células β. Adicionalmente, macrófagos presentes neste processo inflamatório produzem e liberam citocinas: IL-1 e TNFα, cujos efeitos destrutivos sobre as células β são iminentes. Potencialmente favorável, os efeitos lesivos da IL-1 sobre as células β podem ser mediados pelos radicais livres derivados do oxigênio devido ao fato de células β  pancreáticas serem extremamente sensíveis a ação de radicais livres, incluindo os ânions superóxidos, o peróxido de hidrogênio e os radicais hidroxilas. As ações da IL-1 sobre as células β são muito potenciadas pelo TNF-α e INF-γ e pela estimulação da atividade secretória das células β. Em um primeiro momento , embora a massa de células β diminua, a reserva funcional de células β ainda permanece suficiente para a manutenção de níveis normais de glicemia. Contudo, o processo auto-imune e lesivo às células β é continuamente progressivo, e a perda destas é agora de tal grandeza que causa diminuição de secreção de insulina ao estímulo com glicose e finalmente altera o teste oral de tolerância à glicose (TOTG ou GTT). Como a destruição das células β é contínua, os níveis glicêmicos em estado de jejum se elevam e o diabetes se manifesta clinicamente.

Diabetes tipo 2 - conceituada como doença ou síndrome frequentemente associada à forte predisposição de cunho genético. Segundo alguns estudos épidemiológicos, a estatística diz que 38% dos irmãos e um terço dos filhos de diabéticos tipo 2 têm diabetes ou tolerância à glicose diminuída (TGD) e a concordância de DMT2 entre gêmeos monozigóticos é em torno de 70 a 80%. Há certa polêmica quando se discute os aspectos genéticos desta forma de diabetes, sendo considerada  de forma complexa e muito provavelmente poligênica. Isto ainda necessita de maiores esclarecimentos científicos e um concenso clínico bem definido, fatos estes que estão ainda distantes de ocorrer. Duas ocorrências importantes são indiscutíveis no que tange aos desajustes que manifestam o DMT2: (1) resistência à insulina e (2) deficiência de secreção de insulina. Certamente, manifestações genéticas podem ser influenciadas pelos fatores ambientais, mas as manifestações importantes ocorrem em indivíduos que apresentam predisposição genética sensível aos fatores ambientais. Assim, o risco de desenvolver o DMT2 aumenta, principalmente à medida com que ocorre o avanço da idade, da obesidade central e com o sedentarismo.

Fisiopatologia
Os níveis de glicose sérica são normalmente mantidos numa faixa relativamente estreita, aproximadamente entre 70 e a 99 mg/dL, levando em conta, as variações que ocorrem entre a glicose que chega e a que deixa a célula após refeições e durante exercício físico. De grande importância, o organismo realiza a manutenção dos níveis glicêmicos de forma  importante para a sobrevivência. Esta manutenção na faixa de normalidade é de fundamental importância e para isto é indispensável a atuaçlão do sistema hormonal. De um lado a insulina - ação regulatória - do outro, o glucagon, as catecolaminas, o cortisol e o hormônio do crescimento - GH - ação contra regulatória. A insulina liberada nos períodos pós prandiais pelos níveis aumentados de glicose sérica e o glucagon nos períodos de jejum, pelos niveis diminuídos de glicose sérica. A glicose, principalmente, mas também por aminoácidos,  ácidos graxos livres, as sulfoniluréias e as glinidas São substâncias que estimulam a liberação de insulina pelas células β. A glicose é transportada de forma eficaz para o interior das células β pelo transportador GLUT2. Em seguida é fosforilada em glicose-6P pela glicokinase, que é considerada o sensor de glicose para as células β. A glicose-6P é oxidada e com isto há aumento dos níveis intracelulares da relação ATP/ADP que promovem o fechamento dos canais de K+ quimicamente regulados sensíveis ao ATP das células β. Há então desporalização da membrana destas células com abertura dos canais de Ca++ voltagem dependentes, aumento da concentração do Ca++ intracelular, e o Ca++ atua como 2º mensageiro promovendo a ativação de kinases, com expulsão dos grânulos secretores e liberação de insulina na forma; pró insulina → insulina + peptídeo C. A secreção de insulina é bifásica. Nos primeiros 10 minutos após o estímulo, sendo aguda e de curta duração inicia-se a ocorrência da primeira fase que é constituída pela insulina pré-formada. É de fundamental importância para o controle dos níveis glicêmicos pós-prandiais e é a primeira a ser alterada no DM. Persistindo o estímulo glicêmico, ocorre a 2a fase, que é menos intensa e mais prolongada. O receptor da insulina é um hétero-tetrâmero constituído de duas subunidades α, extracelulares e duas subunidades β, transmembrana celulares e intracelulares: β-α-α- β. A ação da insulina começa com sua ligação às subunidades α, que muda de conformação e ativa a subunidade β, que é uma tirosina kinase. Assim, inicia-se a transdução de sinais com a  fosforilação em cascata de substratos e enzimas, que culmina com as ações da insulina: anabolismo, estímulo do transporte da glicose pelo GLUT4 (músculo, tecido adiposo), crescimento celular. As principais ações metabólicas da insulina são: estimular a captação de glicose e sua utilização produzindo energia por meio da oxidação da glicose ou o que chamamos de glicólise e/ou armazenando-a na forma de glicogênio por meio do processo denominado glicogenogênese, por, atualmente modificado para glicogênese e, síntese de triglicerídeos por meio do processo de lipogênese; estimular o depósito de AGL no tecido adiposo; estimular a captação de aminoácidos e a síntese protéica. As células α são estimuladas quando os níveis glicêmicos estão abaixo do limite inferior de normalidade, < 70 mg/dl (jejum), por aminoácidos e por vários hormônios: catecolaminas, cortisol, GH, β-endorfina, vasopressina. A insulina, exerce efeito inibitório sobre a secreção de glucagon. O glucagon é então liberado na circulação e, sem necessitar de transportador, atinge seus receptores nos órgãos-alvo. A ligação glucagon receptor causa acúmulo citoplasmático de AMPc e Ca++. Os efeitos do glucagon ocorrem principalmente no metabolismo intermediário hepático por meio dos segundos mensageiros antes citados, que ativam as proteínas kinases A e C. Estas kinases, por sua vez, afetam um amplo espectro de processos enzimáticos, incluindo ativação da glicogenólise e da neoglicogênese com aumento da produção hepática de glicose, cetogênese pelo fígado e da síntese de uréia. Assim, no estado pós-prandial é importante que os alimentos sejam aproveitados seja para a produção de energia ou para seu armazenamento. Por outro lado, no estado pós-absortivo é importante que o organismo produza glicose e que os tecidos periféricos utilizem AGL como principal fonte energética, poupando a glicose, como substrato energético, para o sistema nervoso central, o que é realizado pelas ações do glucagon. Os hormônios insulina e glucagon inteferem nas vias metabólicas de formas opostas: a) por meio de controle rápido dos complexos enzimáticos por fosforilação fosforilaçãodesfosforilação; b) por meio de controle de longa duração por regular a síntese das várias enzimas. Os  hormônios liberados em situações de estresse: catecolaminas, cortisol e GH atuam metabolicamente aumentando a lipólise, a glicogenólise e/ou neoglicogênese e diminuindo a captação e a utilização periférica da glicose. Portanto, intensificam as ações metabólicas do glucagon. No Diabetes mellitus o mecanismo fisiopatológico fundamental é a diminuição da razão: insulina/glucagon, que é mais intensa no DMT1 que no DMT2. Tal ocorre por diminuição de secreção de insulina, que é grave no DMT1 e menos intensa e associada a resistência à insulina no DMT2, e por secreção aumentada de glucagon. Conseqüentemente, ocorrerão, em grau variável de intensidade, os distúrbios metabólicos apresentados na Tabela 2, que caracterizam um estado catabólico.

Bibliografia

GROSS JL; FERREIRA SRG; FRANCO LJ; SCHIMIDT; MI; MOTTA DG; QUINTÃO E; NETTO AP;. Diagnóstico e classificação do diabetes melito e tratamento do diabetes melito tipo 2. Arq Bras Endocrinol Metab 44 (supl 1):5-32, 2000.


The Diabetes Control and Complications Trials (DCCT) Research Group. The effect of intensive treatment of diabetes on the development and progression of long-term complications in insulin-dependent diabetes mellitus. N Engl J Med 329:977-986, 1993.


The Expert Committee on the Diagnosis and Classification of Diabetes Mellitus. Report of the Expert Committee on the diagnosis and classification of diabetes mellitus. Diabetes Care 25 (suppl 1):S5-S20, 2002.


UK Prospective Diabetes Study Group. Intensive blood-glucose control with sulphonylureas or insulin compared with conventional treatment and risk of complications in patients with type 2 diabetes (UKPDS 33). Lancet 352:837-853, 1998.

sábado, 26 de junho de 2010

HANSENÍASE (LEPRA): ATUALIZAÇÃO EM IMUNOLOGIA E FISIOPATOLOGIA

A hanseníase é uma infecção granulomatosa crônica, infectocontagiosa, que afeta principalmente pele e nervos periféricos (polineuropatia), podendo causar incapacidades quando não tratada na fase inicial da doença. É transmitida pelas vias aéreas superiores de pessoa a pessoa por meio do convívio de susceptíveis com doentes portadores do agente causador e que se encontram sem tratamento. A afecção pode ser melhor compreendida quando considerada associação de duas doenças. Sob aspecto imunofisiopatogênico, pode-se considerar a primeira como uma infecção crônica causada pelo "Mycobacterium leprae", um bacilo intracelular obrigatório e álcool ácido resistente que induz extraordinária resposta imune. O período de incubação é entre 3 a 5 anos. O teste de Mitsuda positivo infere evolução para uma das duas formas existentes: a forma tuberculóide, com placas bem delimitadas geralmente anestésicas ou com o tronco nervoso comprometido e caracteristicamente apresenta granulomas tuberculóides. A segunda é uma neuropatia periférica iniciada pela infecção acompanhada por eventos imunológicos, cujas evolução e sequelas frequentemente se estendem por muitos anos após a cura da infecção. Como consequências, o indivíduo pode ser levado à grave debilidade física, social e conseqüências psicológicas. O teste de Mitsuda é negativo, com múltiplas lesões de pele, nervos periféricos, manifestações sistêmicas e apresentado reações imunes com a presença de macrófagos repletos de bacilos – é a forma Virchowiana.
As reações diagnósticas são importantes na definição das duas formas de lepra. Na reação de Mitsuda objetiva-se detectar a sorologia espécie específica do anticorpo glicolipídeo fenólico 1 (PGL-1) que é parte constituínte da membrana do M. Leprae e assim determinar qual dos dois tipos de hanseníase o paciente é portador – Tuberculóide ou Virchowiana.
Sob aspecto clínico: as formas clínicas da hanseníase apresentam distribuição ampla e estão associadas às alterações imunológicas do hospedeiro. Segundo a literatura, a classificação de Ridley & Jopling é a mais recomendada no que se refere aos estudos imunológicos; baseia-se em um critério da análises de tecidos de pacientes doentes, ou, o que chamamos de critério histopatológico e sugere a possibilidade de as formas oscilarem no espectro da doença, ora para o pólo de resistência - forma tuberculóide- ora para o pólo de susceptibilidade - firma virchowiana - como denominada no Brasil, em substituição ao termo "lepra lepromatosa" da classificação original. Os subtipos são TT (tuberculóide), BT (borderline tuberculóide), BB (borderline borderline), BV (borderline virchowiano) e VV (virchowiano). As lesões nervosas estão relacionadas com a resposta imune do indivíduo, sendo que as limitadas evidências indicam que os mecanismos imunológicos ocorridos nos nervos são similares aos já descritos na pele. O subtipo TT apresenta menor número de troncos nervosos afetados, embora possa apresentar lesões intensas e mais precoces, pela imunidade celular intensa. A destruição celular e tecidual - necrose caseosa dos granulomas tuberculóides - podem levar à formação de abscessos e à destruição completa dos nervos. No subtipo VV, há evidências concretas de que a imunidade celular está diminuída, sendo que o número de troncos nervosos lesados é numeroso, mas o dano neural é lento e progressivo. As células de Schwann parecem ser os maiores alvos do Mycobacterium leprae. Em pacientes com hanseníase avançada, as células de Schwann mielinizadas e não mielinizadas são infectadas pelo bacilo. Como conseqüência, a longo prazo, estas células são danificadas ou destruídas nos nervos infectados, tendo como resultado final uma neuropatia desmielinizante.


Bibliografia

 - ANDERSSON, AK.; CHADUVULA, AV.; ATKINSON, SE.; YOUNG, SK.; JAIN, S.; SUNEETHA, L.; SUNEETHA, S.; LOCKWOOD, DLJ. Effects of prednisolone treatment on cytokine expression in patients with leprosy type 1 reactions. Infect. Immun. 73: 3725 - 3733, 2005.
- KUMAR et al. Robbins Patologia Básica, Elsevier, 8ª edição, 2008. PRADO, F.C.; RAMOS, J.A.; VALLE, J.R. Atualização terapêutica: manual prático de diagnóstico e tratamento. 21ª Edição – Artes Médicas – 208 2003.
 - ROBBINS Patologia Estrutural e Funcional, livro texto- Guanabara Koogan, Ed. 1995.
 - SITART, JA.; PIRES, MC.; Hanseníase in: LOPES, AC., Diagnóstico e tratamento - Sociedade Brasileira de Clínica Médica, 1268-1274, Ed. Manole, 2006.
 - FOSS, NT.; Episódios reacionais na hanseníase. Medicina Ribeirão Preto, 36:453-459, 2003.
 - MENDONÇA. Imunologia da hanseníase - An Bras Dermatol 83 (4) 2008.
 - BLOOM, BR; GODAL, T; Selective primary health care: Strategies for control of disease in the developing world. V Leprosy Rev Infect Dis 5: 765, 1983.
 - CONVIT,J. et. al.; Immunoprophylactic trial with combined Mycobacterium leprae/BCG vaccine against leprosy: Preliminary results. Lancet 339: 446, 1992.
 - YAMAMURA, M. et. al.; Defining protective response to pathogens cytokines profiles in leprosy lesions. Science, 254: 277, 1991.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

RESULTS OF LONG-TERM CARCINOGENICITY BIOASSAYS ON COCA-COLA ADMINISTERED TO SPRAGUE-DAWLEY RATS

Belpoggi F, Soffritti M, Tibaldi E, Falcioni L, Bua L, Trabucco F.

Cesare Maltoni Cancer Research Center, European Foundation for Oncology and Environmental Siences B. Ramazzini, 40010 Bentivoglio, Italy.

Abstract

Coca-Cola was invented in May 1886 in Atlanta, Georgia by a pharmacist who, by accident or design, mixed carbonated water with the syrup of sugar, phosphoric acid, caffeine, and other natural flavors to create what is known as "the world's favorite soft drink." Coca-Cola is currently sold in more than 200 countries and in early 2000, the company sold its 10 billionth unit case of Coca-Cola branded products. Given the worldwide consumption of Coca-Cola, a project of experimental bioassays to study its long-term effects when administered as substitute for drinking water on male and female Sprague-Dawley rats was planned and executed. The objective of the project was to study whether and how long-term consumption of Coca-Cola affects the basic tumorigram of test animals. The bioassays were performed on rats beginning at different ages, namely: (a) on males and females exposed since embryonic life or from 7 weeks of age; and (b) on males and females exposed from 30, 39, or 55 weeks of age. Overall, the project included 1999 rats. During the biophase, data were collected on fluid and feed consumption, body weight, and survival. Animals were kept under observation until spontaneous death and underwent complete necropsy. The results indicate: (a) an increase in body weight in all treated animals; (b) a statistically significant increase of the incidence in females, both breeders and offspring, bearing malignant mammary tumors; (c) a statistically significant increase in the incidence of exocrine ademonas of the pancreas in both male and female breeders and offspring; and (d) an increased incidence, albeit not statistically significant, of pancreatic islet cell carcinomas in females, a malignant tumor which occurs very rarely in our historical controls. On the basis of the results of this study, excessive consumption of regular soft-drinks should be generally discouraged, in particular for children and adolescents.

PMID: 17119251 [PubMed - indexed for MEDLINE]

TRADUÇÃO (TRANSLATION)

RESULTADOS DE BIOENSAIOS DE CARCINOGENICIDADE A LONGO PRAZO SOBRE A COCA-COLA ADMINISTRADA EM RATOS SPRAGUE DAWLEY

Coca-Cola foi inventada em maio 1886 em Atlanta, na Geórgia, por um farmacêutico que, por acaso ou intencionalmente, não se sabe ao certo, misturou água gaseificada com o xarope de açúcar, ácido fosfórico, cafeína e outros sabores naturais para criar o que é conhecido como "o mundo favorito de refrigerantes. " Coca-Cola é vendida atualmente em mais de 200 países. Tendo em conta o consumo mundial de Coca-Cola, um projeto experimental de bioensaios para estudar seus efeitos a longo prazo, quando administrada como substituto para a água potável em ratos machos e fêmeas Sprague-Dawley foi planejado e executado. O objetivo do projeto foi estudar se e como a longo prazo o consumo de Coca-Cola afeta a base do tumorigrama de animais de laboratório. Os bioensaios foram realizados em ratos início em idades diferentes, a saber: (a) em machos e fêmeas expostas desde a vida embrionária ou a partir de 7 semanas de idade, e (b) em machos e fêmeas expostas a partir de 30, 39 ou 55 semanas de idade . Globalmente, o projecto incluiu 1.999 ratos. Durante o biofase, foram coletados dados de fluido e consumo de ração, peso corporal, e sobrevida. Os animais foram mantidos em observação até a morte espontânea e submetidos à necropsia completa. Os resultados indicam que: (a) houve aumento no peso corporal em todos os animais tratados, (b) houve aumento estatisticamente significativo da incidência no sexo feminino, tanto de criadores e filhos, de tumores mamários malignos; (c) houve aumento estatisticamente significativo na incidência de ademonas exócrino do pâncreas, em ambos os sexos masculino e feminino de criadores e descendentes, e (d) houve aumento da incidência, embora não estatisticamente significativa, de carcinomas de células das ilhotas pancreáticas nas fêmeas, um tumor maligno que ocorre muito raramente em nossos controles históricos. Com base nos resultados deste estudo, o consumo excessivo de refrigerantes regulares devem ser desencorajados, em especial em crianças e adolescentes.


COMENTÁRIOS

Sem dúvida, este estudo mostrou a associação da coca-cola no aumento da incidência de peso corporal, tumores mamários e adenoma exócrino pancreático. É um estudo de significante importância, contudo, não deve ainda ser extrapolado para aplicação humana. Dado o fato de que ratos tem o metabolismo acelerado em relação aos humanos, e toda sua faixa funcional basal está fisiologicamente desproporcional à taxa basal humana, portanto, algumas comparações ainda não podem ser consideradas. Há de se considerar sim, acaso se este estudo se repetir em humanos, dentro das mesmas características fisiológicas e patológicas e metodologia de avaliação dentro de parâmetros coerentes em termos comparativos.  Entretanto, sob aspecto preventivo, sempre se torna salutar elaborar programas de incentivo aos bons hábitos alimentares ou degustativos de lazer, de maneira que sua prática seja mais prazeroza e o mais importante: mais saudável possível.

BIBLIOGRAFIA

Ann N Y Acad Sci. 2006 Sep;1076:736-52.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

HIPERTIREOIDISMO OU TIREOTOXICOSE - RESUMO CLÍNICO E TERAPÊUTICO.

Tireotoxicose é o termo amplamente difundido na linguagem médica para apontar um distúrbio endócrino de hipertireoidismo. Este distúrbio é classicamente determinado pelos altos níves dos hormônios tireoideanos séricos. A tireotoxicose  não se resume simplesmente no aumento destes hormônios, mas também reúne fatores dependentes da hiperfunção da glândula tireóide, como por exemplo a tireoidite iatrogênica, isto é, oriunda de consequências de práticas médicas anteriores. Dentre as causas de hipertireoidismo, estão entre as causas mais frequentes e comuns, a doença de Basedow-Graves. Caracteriza-se por tireotoxicose, bócio uni ou multinodular, oftalmopatia. Sua etiopatogenia está ligada à doença auto imune. Este agravante deriva hiperestimulação da tireóide por meio de uma imunoglobulina que  se liga ao receptor do hormônio tireotrófico (TSH). Entre as demais causas de hipertireoidismo estão  a tireoidite subaguda, tireotoxicose medicamentosa, tireoidite linfocítica, tumores trofoblásticos, metástases de carcinoma folicular da tireóide, tireotoxicose induzida por iodo e o hipertireoidismo hipofisário ou hipotalâmico. Nervosismo, instabilidade emocional, fadiga, sudorese excessiva, tremores, taquicardia, emagrecimento, bócio e algumas queixas de sintomas oculares são sintomas e sinais pertinentes à tireotoxicose. É comum o paciente apresentar-se agitado, com pele quente e mãos trêmulas durante o exame clínico na consulta médica. Clinicamente as informações sintomáticas e alguns sinais são abstraídos, levando o médico a forte suspeita da doença, mas o diagnóstico definitivo e confirmatório é feito por meio das dosagens de TSH, que nos casos de hipertireoidismo fica indetectável, e do T4 livre que se apresenta aumentado. Ainda assim, caso o T4 livre não seja confirmatório, poderá ser feita solicitação da dosagem de T3 total e/ou T3 livre que certamente estará com seus níveis elevados em praticamente todos os casos de hipertireoidismo. O tratamento é feito com metimazol e propiltiouracil. São drogas que inibem a oxidação do iodo captado pela tireoide e impedem a síntese dos hormônios T3 e T4. Devido à permanência temporal maior na tireoide, isto claro, implica na ação prolongada da droga, o metimazol é a droga de primeira escolha. Em duas semanas a melhora clínica é evidente e aproximadamente em oito semanas pode-se ser constatado o eutireoidismo.