A hanseníase é uma infecção granulomatosa crônica, infectocontagiosa, que afeta principalmente pele e nervos periféricos (polineuropatia), podendo causar incapacidades quando não tratada na fase inicial da doença. É transmitida pelas vias aéreas superiores de pessoa a pessoa por meio do convívio de susceptíveis com doentes portadores do agente causador e que se encontram sem tratamento. A afecção pode ser melhor compreendida quando considerada associação de duas doenças. Sob aspecto imunofisiopatogênico, pode-se considerar a primeira como uma infecção crônica causada pelo "Mycobacterium leprae", um bacilo intracelular obrigatório e álcool ácido resistente que induz extraordinária resposta imune. O período de incubação é entre 3 a 5 anos. O teste de Mitsuda positivo infere evolução para uma das duas formas existentes: a forma tuberculóide, com placas bem delimitadas geralmente anestésicas ou com o tronco nervoso comprometido e caracteristicamente apresenta granulomas tuberculóides. A segunda é uma neuropatia periférica iniciada pela infecção acompanhada por eventos imunológicos, cujas evolução e sequelas frequentemente se estendem por muitos anos após a cura da infecção. Como consequências, o indivíduo pode ser levado à grave debilidade física, social e conseqüências psicológicas. O teste de Mitsuda é negativo, com múltiplas lesões de pele, nervos periféricos, manifestações sistêmicas e apresentado reações imunes com a presença de macrófagos repletos de bacilos – é a forma Virchowiana.
As reações diagnósticas são importantes na definição das duas formas de lepra. Na reação de Mitsuda objetiva-se detectar a sorologia espécie específica do anticorpo glicolipídeo fenólico 1 (PGL-1) que é parte constituínte da membrana do M. Leprae e assim determinar qual dos dois tipos de hanseníase o paciente é portador – Tuberculóide ou Virchowiana.
Sob aspecto clínico: as formas clínicas da hanseníase apresentam distribuição ampla e estão associadas às alterações imunológicas do hospedeiro. Segundo a literatura, a classificação de Ridley & Jopling é a mais recomendada no que se refere aos estudos imunológicos; baseia-se em um critério da análises de tecidos de pacientes doentes, ou, o que chamamos de critério histopatológico e sugere a possibilidade de as formas oscilarem no espectro da doença, ora para o pólo de resistência - forma tuberculóide- ora para o pólo de susceptibilidade - firma virchowiana - como denominada no Brasil, em substituição ao termo "lepra lepromatosa" da classificação original. Os subtipos são TT (tuberculóide), BT (borderline tuberculóide), BB (borderline borderline), BV (borderline virchowiano) e VV (virchowiano). As lesões nervosas estão relacionadas com a resposta imune do indivíduo, sendo que as limitadas evidências indicam que os mecanismos imunológicos ocorridos nos nervos são similares aos já descritos na pele. O subtipo TT apresenta menor número de troncos nervosos afetados, embora possa apresentar lesões intensas e mais precoces, pela imunidade celular intensa. A destruição celular e tecidual - necrose caseosa dos granulomas tuberculóides - podem levar à formação de abscessos e à destruição completa dos nervos. No subtipo VV, há evidências concretas de que a imunidade celular está diminuída, sendo que o número de troncos nervosos lesados é numeroso, mas o dano neural é lento e progressivo. As células de Schwann parecem ser os maiores alvos do Mycobacterium leprae. Em pacientes com hanseníase avançada, as células de Schwann mielinizadas e não mielinizadas são infectadas pelo bacilo. Como conseqüência, a longo prazo, estas células são danificadas ou destruídas nos nervos infectados, tendo como resultado final uma neuropatia desmielinizante.
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