sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

HISTÓRIA DA FISIOLOGIA - Breve relato

O filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.) especulou sobre a função do corpo humano, mas um outro grego, Erasístrato (304-250? a.C.), é considerado o pai da fisiologia devido sua procura por leis físicas que permitissem a compreensão da função humana. Porém, o termo Fisiologia foi cunhado pela primeira vez por um médico francês - Jean Fernel (1497-1558). Fernel foi também o primeiro a descrever o canal vertebral (o espaço na coluna onde a medula espinhal atravessa).
Galeno (130-201 d.C.) escreveu amplamente sobre o assunto e foi considerado autoridade máxima até o Renascimento. Graças aos trabalhos de William Harvey (1578-1657), fazendo uma excepcional exposição sobre o bombeamento de sangue pelo coração por um sistema fechado de vasos sanguíneos foi que a fisiologia se tornou uma ciência, sendo então conceituada como o estudo da função biológica normal da célula, tecido, órgão e organismo.


Entretanto, a fisiologia moderna escolheu outro pai, o francês Claude Bernard (1813-1878), que observou que o ambiente interno do organismo permanece constante na presença de alterações do ambiente externo.
Este comportamento foi cunhado de "Homeostasia" pelo fisiologista americano Walter Cannon (1871-1945)
no artigo ‘‘Physiological regulation of normal states: some tentative postulates concerning biological homeostatics.’’ Cannon, desde cedo mostrou interesse pelas ciências biológicas e, em 1896, foi aceito na Escola de Medicina de Harvard. Lá iniciou seus trabalhos de investigação científica, no laboratório de Henry P. Bowditch (1840- 1911), estudando a motilidade do trato gastrointestinal com a recém-criada técnica de raios-X. Após compilar seus achados sobre digestão na obra The mechanical factors of digestion (Os fatores mecânicos da digestão), voltou sua atenção para o estudo do sistema nervoso autônomo e da fisiologia das emoções. Era nítida para ele a semelhança entre a ação das secreções da divisão autonômica simpática e os efeitos de extratos das glândulas suprarrenais. Passou então a investigar a influência de perturbações emocionais sobre a liberação dessas substâncias (mais tarde identificadas como noradrenalina e adrenalina), e a explorar seus efeitos na fisiologia corporal. Sua conclusão – hoje conhecida como “reação de luta - ou - fuga” – foi que intensos estados emocionais estimulam a secreção de adrenalina pela glândula adrenal, que, agindo nos tecidos periféricos, prepara o organismo para uma ação vigorosa em estados de emergência.

De acordo com a publicação do Professor Dr. Paulo Tucci [Arq. Bras. Cardiol. 58 (4): 295-302, 1992], renomado cientista, admirador e estudioso de Starling, este foi o mais velho dos sete filhos de uma família com recursos 
financeiros limitados, de fé religiosa fundamentalista,  Ernest Henry Starling, um fisiologista cujos trabalhos experimentais exerceram grande influência no próprio campo do manuseio de cardiopatas. Homem convicto do papel fundamental da pesquisa básica para o avanço da atividade clínica, exerceu constante pressão para que aquela busca se desenvolvesse. E isto em época na qual a fisiologia ainda era superficialmente exercida na Inglaterra. O interesse de Starling em Fisiologia era geral, mas o que o atraia, particularmente, era a busca dos fundamentos físicos e químicos dos processos de regulação. A publicação de sua primeira produção efetiva data de 1891, em co-autoria com Bayliss, na qual analisou a eletrofisiologia cardíaca. Starling deu maior ênfase ao equilíbrio dos líquidos e às secreções digestiva. Progressivamente, foi verificando que: 1) a formação da linfa depende da permeabilidade da parede dos vasos e da pressão intracapilar; 2) a pressão osmótica das soluções colóides, às quais os capilares são relativamente impermeáveis, é um fator determinante do deslocamento dos líquidos; 3) a pressão osmótica das proteínas plasmáticas e a pressão hidrostática reinante nos capilares constituem as forças que regulam o sentido do deslocamento dos líquidos. Este conjunto de princípios permite entender o denominado princípio de Starling, que rege o equilíbrio dos líquidos. Foi o primeiro a conferir aos rins a função filtradora.
Mais tarde, caracterizou que a maioria dos solutos plasmáticos era, simplesmente, filtrada nos glomérulos; boa parte dos componentes do filtrado era reabsorvida (água, cloro, bicarbonato, glicose), enquanto outras substâncias (uréia e sulfatos) eram secretadas.  Contrariando o saber estabelecido, Starling e Bayliss descreveram a existência, e as vias de ativação humoral, da secretina pancreática. Formularam o conceito de "chemical messengers" e, pela primeira vez, utilizaram a expressão hormônio.
Em outra sequência de trabalhos, conduzidos juntamente com Knowlton, Starling antecipou, em anos, a existência da insulina: "So far our results go, they seem to indicate that the pancreas normally produces a hormone which circulates in the blood, and the presence of which is necessary in order that the tissue cells may be able to assimilate and utilize the sugar of the blood." Os trabalhos sobre o equilíbrio dos líquidos deram renome internacional a Starling, possibilitando-lhe desfrutar de convívio com a comunidade científica de vanguarda. Durante conferências (Arris and Gales Lectures) proferidas neste intercâmbio, abordou aspectos da função cardíaca não relacionados, propriamente, com o equilíbrio dos líquidos. Delas resultaram, em 1897, a publicação de três textos. É surpreendente como o primeiro deles (On the Compensatory Mechanisms of the Heart) antecipa as leis do coração de 12 anos, em relação à época que Starling começou a padronizar a preparação coração-pulmão: "... we can increase the resistance to be overcome by the heart to three or four times the normal amount, without altering in any way the quantity of blood expelled in each beat, ... within very wide limits the output of the heart is independent of the resistance to output... increase diastolic distension exercises a strong augmenting effect on the ventricular contraction." Mais tarde ele verificaria que estas características eram preservadas no coração denervado e, portanto, eram expressões de uma propriedade intrínseca.


Em 1964, Macfarlane propôs a hipótese da “cascata” para explicar a fisi
ologia da coagulação do sangue. Foi proposto um modelo, onde a coagulação ocorre por meio de ativação proteolítica, sequencial de zimógenos, por proteasesdo plasma, resultando na formação de trombina que, então, converte a molécula de fibrinogênio em fibrina.

Grande parte dos conhecimentos sobre a fisiologia chegou a ser esclar
ecido no século XX. Com o advento de novas técnicas e a descoberta do DNA - biotecnologia, a fisiologia tornou-se altamente revolucionária, abrangendo um número ilimitado de publicações anuais.







Dr. Dermeval Reis Junior
Biomédico Pesquisador/Professor
Fisiologia - Patologia Clínica