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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Uma sucinta abordagem sobre cortisol e hormônios gonadotróficos.

Os glicocorticóides são hormônios esteróides, derivados do colesterol. O cortisol (ou hidrocortisona) é o principal hormônio produzido pela região cortical da glândula supra renal. Obedecendo a um ritmo circadiano, com elevações maiores pela manhã. Segundo o estudo de Breen (2003), elevações dos níveis de glicocorticóides suprimem a secreção de LH, geralmente, relacionado à condições de desajuse hormonal devido à menopausa. Testes em ovelhas ovariectomizadas (que simulam a menopausa, mas não o climatério), mostram isto. Os glicocorticóides possuem efeitos fisiológicos importantes. 
No músculo, seu efeito é catabólico. Assim, inibem a captação e o metabolismo da glicose, reduzem a síntese protéica e aumentam a liberação dos aminoácidos e lactato; 
No tecido adiposo, seu efeito é lipolítico. Estimula a lipólise e aumenta a liberação de ácidos graxos livres (AGL) e de glicerol; 
No Fígado, seu efeito é sintético. Aumenta a gliconeogênese, glicogenogênese, atividade da G6Ptase e, por fim, aumenta a glicemia; 
No sistema imune possui pelo menos três efeitos: supressor - reduz a contagem dos linfócitos, monócitos, eosinófilos e basófilos circulantes, inibe a produção da IL-2 por linfócitos T, interfere no processamento dos antígenos, na produção de anticorpos e sua eliminação; efeito anti-inflamatório - reduz a migração de neutrófilos, monócitos e linfócitos para os focos da lesão; outros efeitos - estimula a liberação dos neutrófilos pela medula óssea e interfere na migração destes para fora do compartimento vascular; 
No sistema Cardiovascular seu efeito é aumentar o débito cardíaco e tônus vascular periférico; 
Nos Rins aumenta a taxa de filtração glomerular e facilita a regulação do equilíbrio hidroeletrolítico; 
Outros efeitos - resistência ao estresse, antagonismo da insulina, o que, nesta circunstância promove aumento da glicemia. 
A produção dos principais hormônios sexuais (testosterona no homem e estradiol na mulher) é regulada através de dois hormônios hipofisários: o hormônio luteinizante (LH) e o folículo estimulante (FSH). Além disso, existem outras substâncias diretamente reguladas por este eixo, como os precursores androgênicos e a progesterona. A complexidade da relação hipófise-gônada faz com que pequenas alterações, em qualquer dos hormônios que participam da sua regulação, possam promover um grande impacto no eixo gonadotrófico. Doenças que diminuam a produção de LH e/ou FSH levam a um quadro de hipogonadismo hipogonadotrófico, enquanto que alterações primárias em gônadas (testículos ou ovários) levam a um hipogonadismo hipergonadotrófico.

A Síndrome Metabólica (doença caracterizada por alterações no metabolismo glicídico, obesidade, hipertensão e dislipidemia) altera o eixo gonadotrófico de diferentes maneiras em homens e mulheres. Em homens, existe uma diminuição dos níveis plasmáticos de testosterona total e livre, das proteínas de ligação dos hormônios sexuais (SHBG), uma atenuação da amplitude dos pulsos de LH e um aumento nos níveis de estradiol. Nas mulheres, por sua vez, existe um aumento dos níveis de testosterona e das gonadotrofinas, além de uma diminuição nos níveis de estradiol e da SHBG, segundo Matos et al. (2003).  
Aparentemente, não há uma relação direta descrita significativamente entre os níveis aumentados de cortisol e níveis relativamente baixos de LH e FSH, exceto em condições em que a mulher esteja na menopausa. Porém, há outras causas, mais específicas e significantes, de aumentos dos níveis de cortisol. A superprodução de glicocorticóides ou síndrome de Cushing (por um tumor na supra renal), estimulação excessiva da síntese e liberação pelo ACTH devido a tumos hopofisário, estão entre as causas mais graves. Uma das manifestações clínicas mais comuns ao excesso de glicocorticóides consiste no início relativamente súbito de ganho ponderal (geralmente central), espessamento facial. Outros achados incluem hipertensão, intolerância à glicose, diminuição da libido (em homens), diminuição do fluxo menstrual em mulheres pré-climatéricas (erroneamente chamadas de menopáusicas), debilidade e fraqueza muscular.


Referências

Matos et al. - Neuroendocrinology of the metabolic syndrome - Arq Bras Endocrinol Metab vol.47 no.4 São Paulo Aug. 2003.

Breen & Karsch - Does Cortisol Inhibit Pulsatile Luteinizing Hormone Secretion at the Hypothalamic or Pituitary Level?, Endocrinology, 145 (2), 2004.

McPhee & Ganong - Fisiopatologia da Doença - uma introdução à medicina clínica, 2007.
Silva,RC - Uso clínico de glicocorticóides, in: Lopes, AC e Cols. Diagnóstico e Tratamento Vol 2, 2006.

Molina, P. - Fisiologia Endócrina, 2007.



segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

SÍNDROME METABÓLICA - UMA ABORDAGEM SUCINTA SOBRE A FISIOPATOLOGIA DA RESISTÊNCIA À INSULINA E OBESIDADE

Conhecida como síndrome X, síndrome de Resistência à Insulina ou síndrome de Reaven. Esta condição não é uma 'subclasse' do Diabetes, mas é extremamente associado ao tipo 2 de Diabetes. Afeta 50 milhões de pessoas nos EUA (1 em cada 3 ou 4 adultos). Conceitualmente é um agrupamento de achados clínicos e laboratoriais que caracterizam-na como síndrome. Sua fisiopatologia é bem complexa, considerando que esta síndrome é constituída por vários distúrbios (obesidade central, abdominal e visceral, hiperatividade simpática, hipertensão arterial, intolerância à glicose, resistência à insulina, diabetes mellitus tipo 2, dislipidemia (hipertrigliceridemia, LDL aumentada, HDL diminuída, lipemia pós-prandial aumentada), fibrinólise desordenada (aumento do PAI-1, PAF, fator VII, XII e fibrinogênio com níveis diminuídos dos fatores trombóticos C e S e ATIII), hiperuricemia, inflamação sistêmica e disfunção endotelial. Acresça-se risco aumentado de doença vascular aterosclerótica associada ao diabetes. Assim sendo, é necessário que a fisiopatologia de cada um dos distúrbios seja descrita. Porém, não faremos isto. Devido ao fato de este distúrbio estar profundamente relacionado com Diabetes do tipo II e Obesidade, vale a pena considerar a fisiopatologia do Diabetes do tipo II, onde se faz menção da Resistência à Insulina, como um dos principais mecanismos (http://fisiologia-patologia.blogspot.com.br/2010/06/diabetes-etiopatogenese-fisiopatologia.html). A obesidade, mais enfaticamente, a obesidade central, tem sido considerada como importante e poderoso fator de risco para o desenvolvimento de diabetes do tipo 2 e, fortemente associado aos distúrbios cardiovasculares. Não por acaso, em indivíduos obesos, há forte correlação entre a hiperinsulinemia e presença de resistência à insulina. Há um conceito paradoxal que tem permanecido em voga, fazendo referência à duas bases fisiopatológicas  para o diabetes do tipo 2. Uma, a resistência à insulina e, outra, a deficiência da secreção de insulina. Na resistência à insulina, prevalece o efeito lipolítico, resultando aumento da oferta de ácidos graxos ao fígado. Por sua vez, os hepatócitos, por meio do processo de oxidação de ácidos graxos aumenta a produção hepática de glicose. Os triglicerídeos com síntese intensa, acabam por intensificar a redução do HDL e aumento do LDL, este último, com partículas altamente aterogênicas. Está instalada a dislipidemia, com hipertrigliceridemia, encontrada em obesos diabéticos  do tipo 2. Um outro mecanismo vem do próprio tecido adiposo. TNF-alfa, resistina e leptina são fatores liberados nos adipócitos eque ainda, o TNF-alfa está por ser compreendido, em sua atuação na resistência à insulina, já que a modulação da insulina em receptores é mediada por ativação da tirosina-kinase, bem como o TNF-alfa. Mas, é fato, considerar que há fortíssima interação entre a genética e o meio ambiente, quando há suscetibilidade factível às alterações no corpo humano, relacionadas à obesidade. O ganho de peso ocorre quando se consome mais energia do que se gasta (balanço negativo). É sempre conveniente lembrar da termogenina, uma  proteína desacopladora das reações oxidativas mitocondriais, ou UCP's. Ao desacoplar uma oxidação, a termogenina faz com que energia na forma de calor seja liberada. Como um importante determinante na condutância do fluxo de prótons a termogenina pode mediar o potencial eletroquímico através da membrana mitocondrial. Uma vez inibido este sistema da termogenina, então, há aumento da massa gordurosa, que pode levar ao desbalanço metabólico energético e, por fim, obesidade. Morbidade e mortalidade são aumentadas ante a associação de obesidade e diabetes. a obesidade "per se" é considerada hoje, como a "doença das doenças".

Referências
HOTAMISLIGIL, AE et al. Increase adipose tissue expression of tumor necrossis factor alfa inhuman obesity and insulin resistance. J Clin Invest 95:2409-2415, 1995.

KRODER GB et al. Tumor necrosis factor alfa and hyperglycemia-induced insulin resistance. Evidence for different mechanisms and different efects on insulin signaling. J Clin Invest 97: 1471-1477, 1996.

RANDLE, PJ et al. The glucose fatty acid cycle: ists role in insulin sensitivity and the methabolic disturbances of diabetes mellitus. Arch Biochem Biophys, 271: 1-9, 1963.  


Dr. Dermeval Reis Junior - Biomédico Fisiopatologista

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