quarta-feira, 19 de agosto de 2015

MECANISMO BIOQUÍMICO DA SINALIZAÇÃO INTRACELULAR DO PROCESSO DE HIPERTROFIA MIOCÁRDICA DEVIDO AO EXERCÍCIO FÍSICO AERÓBICO

É muito recente o conhecimento de como os sinais extracelulares são transformados em mensagens intracelulares, na ocorrência do processo de hipertrofia cardíaca induzido pelo treinamento físico aeróbico. 

Utilizando os avanços tecnológicos, está sendo possível elucidar as vias bioquímicas, que  são mediados por receptores, canais iônicos ou por proteínas ancoradas à membrana, como as integrinas. Como já é consagrado, receptores de membrana são ativados por seus respectivos agonistas. Diferente das integrinas, que são proteínas cujas ativações são possíveis devido sua sensibilidade ao estresse mecânico. O crescimento do miócito cardíaco ocorre devido ao acionamento tanto dos receptores quanto das integrinas, e por estes mecanismos, então, desencadeiam-se os sinais bioquímicos intracelulares, alterando no nível do núcleo celular, mais precisamente, no DNA a expressão gênica, e no citoplasma aumentando a velocidade de tradução ribossomal de proteínas, assim como, o mecanismo modulador diminui a degradação proteica. 

Um receptor em específico, talvez parte da via mais bem estabelecida na ocorrência de hipertrofia cardíaca por conta do exercício físico é o receptor de tirosina quinase, estrutura proteica na qual se ligam fatores de crescimento como o fator de crescimento de fibroblastos (FGF) e o fator de crescimento semelhante a insulina (IGF-1). A ligação deste fator ao seu receptor de tirosina quinase na membrana celular tem como efeito, a ativação de outra estrutura, de ordem lipídio quinase, chamada de Iα da PI3K (fosfoinositídeo 3-cinase), cujas formas de expressão gênicas são variadas. Em especial, a forma constitutiva p110α no coração leva à hipertrofia cardíaca exatamente semelhante àquela observada em atletas. 

Outra forma, inativa, de p110α no coração impede  o desenvolvimento da hipertrofia cardíaca quando há estímulo ocasionado pelo exercício físico. O mecanismo funciona quando que, uma vez ativada, a PI3Kα fosforila o fosfatidilinositol 4,5 bisfosfato da membrana plasmática na posição 3’ do anel inositol. Esta fosforilação promove o recrutamento da proteína quinase Akt e seu ativador, proteína quinase-1 dependente de fosfoinositídeo-3 (PDK1) do sarcolema, via interação entre domínios da pleckstrina quinase e do lipídeo 3’-fosforilado. Uma vez recrutada, a proteína PDK1 fosforila a Akt ativando-a.  A Akt é uma serina treonina quinase, existente em três isoformas em cujos três genes existentes, somente dois são super expressos no coração, sendo eles a Akt1 e a Akt2. Camundongos nocautes para Akt1 demonstrou que o treinamento de natação não foi capaz de gerar hipertrofia cardíaca nesse grupo de animais, sugerindo a participação da Akt 1 na hipertrofia cardíaca induzida pelo exercício físico, juntamente com a PI3Kα. 



Referências

Magalhães, FC. Hipertrofia Cardíaca induzida pelo treinamento físico: eventos moleculares e celulares que modificam o fenótipo. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte – Volume 7, número 1, 2008 


Dr. Dermeval Reis Junior
Biomédico - CRBM1  -  8102
Fisiologia / Patologia Clínica



quinta-feira, 13 de agosto de 2015

TOMAR SORVETE E TER DOR DE CABEÇA. POR QUÊ ISTO OCORRE???

Já sentiu a cabeça doer quando toma sorvete ou bebe água muito gelada com rapidez? Pois é, isto é um mistério, ainda não desvendado pelos cientistas. Parece que, ainda hipoteticamente, há relação desta dor com o aumento do fluxo sanguíneo. quero, então, diante desta circunstância hipotética, fazer aqui, um apanhado sobre o sistema nervoso ligado à esta sensação, bem como, sobre o fluxo sanguíneo quando há dilatação arterial. 

Em 2012, saiu uma pesquisa de um cientista de Harvard, dando indícios, segundo a divulgação, de que a dilatação arterial, e por consequência o aumento do fluxo de sangue abruptamente no cérebro pode levar à dor, porém, em seguida, a dor desaparece, como um mecanismo de auto defesa. 

Sistema Nervoso
Para que aconteça esta dor, é necessária inervação para conduzir o impulso (neste caso o impulso ou estímulo é o gelo do sorvete/da água); É uma dor desagradável e mal localizada, e geralmente, irradiada. Os receptores da dor e das outras modalidades sensoriais existentes nas vísceras são semelhantes aos receptores cutâneos, mas os da dor estão presentes, quase que maciçamente, porém, com uma distribuição mais esparsa. Neste caso da dor provocada pelo sorvete, a suspeita pode estar voltada para o nervo glossofaríngeo e vago, que possuem aferência. Os impulsos nervosos originados nas vísceras, via visceroceptores,  relacionam-se com uma regulação reflexa da atividade visceral. 

Vasodilatação arterial
Os vasos arteriais são internamente revestidos por uma camada de células, chamadas de endotélio. O endotélio por sua vez, pode ser considerado um órgão endócrino ativo que, em resposta a estímulos humorais, neurais e mecânicos, sintetiza e libera substâncias vasoativas que modulam tônus, calibre vascular e fluxo sanguíneo, desempenhando papel fundamental na regulação da circulação. Essas substâncias vasoativas foram denominadas fatores constritores derivados do endotélio (Óxido Nítrico; Prostaciclina, Monóxido de Carbono), entre outros. Em situações fisiológicas - e neste caso, a dor de cabeça provocada por ingestão de sorvete é fisiológica - o endotélio desempenha papel protetor do vaso. O fluxo sanguíneo pode ser modulado, quando o vaso aumentar ou diminuir seu calibre, e isto, regulado por funções endoteliais. O principal vasodilatador endotelial e fisiológico, é o Óxido Nítrico. 

Dito estes mecanismos, já consagrados pela literatura científica, fica ainda, e apenas, um hiato em como ocorre, no caso do sorvete/água gelada, a dor de cabeça. Certamente, alguma relação entre o sistema nervoso visceral, como um detector sensorial e, também, possivelmente, um ativador da vasodilatação deve haver. Aguardamos a elucidação desta icógnita. 



Dr. Dermeval Reis Junior
Biomédico 
Fisiologista
Patologista Clínico