quarta-feira, 14 de novembro de 2012

FISIOLOGIA DO ORGASMO, SEM MITOS

Vamos abordar, principalmente, o orgasmo feminino. Neste século graças ao conhecimento científico, técnico e social a pauta sobre sexualidade humana foi resgatada. A Conferência Internacional para População e Desenvolvimento, realizada no Cairo, em 1994 legitimou seu conceito ao perceber que há consideração significante da saúde sexual como parte integrante de saúde reprodutiva. A sexualidade é muito mais do que uma mera função biológica reprodutiva, trata-se, conceitualmente, de fundamental experiência humana que engloba vários fatores, constituintes de todo o aparato que abriga a sexualidade. São eles, o prazer, a afetividade, as intimidades e experiências físicas, emocionais e cognitivas. Sabido isto é possível  afirmar que as sensações sexuais femininas podem ser despertadas por tipos variados de estímulos: fantasias, pensamentos eróticos, carícias, masturbação e coito. Pronto! todos os ingredientes estão juntos. Agora, é compreensível que, uma vez desencadeada, a resposta sexual feminina se expressa através de uma sucessão de fases que se manifestam fisiologicamente de forma sequenciada e interligadas entre si, completando-se assim o ciclo da resposta sexual humana. Diretamente ao ponto, no cérebro a região sexual localiza-se no hipotálamo onde estão localizados os neurotransmissores (substâncias liberadas entre neurônios) que ativam e que inibem o desejo, chamados de centros póstero-laterais e centros ventro-mediais, respectivamente, agindo de forma antagonista. Esses centros estão relacionados aos centros do prazer e da dor. Por essa razão ao ser acionado, o centro do desejo sofre ativação pelo centro do prazer, proporcionando à pessoa uma sensação prazerosa. Já, antagonicamente, quando o centro da dor é ativado, pode haver uma inibição do desejo pelo centro relacionado. As endorfinas, compostos químicos produzidos pelas células cerebrais (hormônio do prazer) proporcionam efeito de euforia, bem estar e alívio. Essa substancia é liberada no Sistema Nervoso Central (SNC) e vai ao mesmo tempo estimular o centro do prazer e inibir o centro da dor. Já quando se estimula o centro da dor, a produção de endorfina é bloqueada. A Excitação é  segunda fase do ciclo da resposta sexual feminina, fase de preparação para o ato sexual, que é desencadeada pelo desejo. A fase de excitação caracteriza-se por uma reação orgânica generalizada de miotonia, vasocongestão tanto dos vasos genitais locais como da pele e lubrificação vaginal. O sistema nervoso autônomo, através de sua ação parassimpática, conduz ao relaxamento da musculatura lisa vaginal, permitindo, assim, aumento de aporte sangüíneo, tumescência e lubrificação vaginais. Após o estímulo sexual, verifica-se a liberação neurogênica e endotelial do óxido nítrico que, por sua vez, provoca maior fluxo sanguíneo para a artéria clitoridiana, aumento da pressão intracavernosa no clitóris, permitindo a sua turgescência, extravasamento de suas glândulas e aumento na sua sensibilidade. À semelhança do que ocorre com o clitóris, há incremento no transudato vaginal, responsável pelo aumento da lubrificação da vagina, que é essencial ao coito prazeroso. O relaxamento na musculatura lisa da vagina possibilita sua dilatação e distensão, especialmente nos seus dois terços inferiores, permitindo a acomodação plena do pênis. Em outras palavras, numa linguagem mais simplória, o processo que leva ao orgasmo, chamado excitação, inicia-se uma adaptação, modificando-se para a relação sexual.  É uma resposta do corpo ao desejo. Na mulher a vagina, que em princípio, até este momento, era um espaço virtual e seco, só aparelho urinário, agora, torna-se mais alongada, mais alargada e bem lubrificada. Estes eventos ocorrem porquê há localmente, aumento da irrigação sanguínea, liberação de muco pelas células mucosas epiteliais da vagina e pelas glândulas vestibulares. Além disso, outras transformações importantes ocorrem. Aumento do volume uterino, bem como sua elevação na pelve e contração de fibras musculares (miotonia). Há aumento no tamanho dos seios e os mamilos enrijecem (arrepio). Há considerável aumento da frequência cardíaca (taquicardia) e respiratória (taquipnéia). Órgãos localizados próximas a região genital, como o ânus, reto, bexiga e uretra, também são afetados pelos reflexo da excitação. Sofrem contrações musculares. No aparelho genital feminino as transformações são significativas: no clitóris, nos grandes e pequenos lábios, no útero e na vagina há vasodilatação, tanto de forma superficial como profunda provocando uma congestão vascular (como ocorre no pênis, para o enrijecimento), além da miotonia. Há ruborização e aumento de tamanho dos grandes e pequenos lábios e do clitóris. Tudo isto acontece, para que, durante os estímulos físicos diversos, chegue-se ao ápice da sensação do prazer, o orgasmo. Podemos definir orgasmo como um fenômeno que consiste em contrações reflexas ritmadas e involuntárias dos músculos perivaginais e perineais, a intervalos de 0,8 segundos. Essas contrações são particularmente visíveis no terço inferior da vagina, formando a plataforma orgásmica, que consiste nos músculos e tecidos engrossados que circundam a entrada da vagina e também alguns dos músculos pélvicos, ou em outra definição, orgasmo é a sensação de êxtase, gozo ou ápice do prazer, acontece quando os estímulos sexuais alcançam com plenitude a sua atividade máxima de sensação de prazer e toda tensão sexual é 'liberada'. Ocorre o que se denomina (alguns autores) de 'plataforma orgásmica'. Ainda, segundo alguns autores, o orgasmo é um reflexo e, como tal, tem um componente sensorial e outro motor. A excitação clitoridiana dispara a descarga orgásmica feminina, que é expressa por contrações rítmicas dos músculos vaginais e circunvaginais. A fase de resolução da resposta sexual feminina é caracterizada por um período de completo relaxamento (motor) e enorme sensação de bem-estar (sensorial). No homem a ejaculação é o resultado desta fase,  onde passa por uma contração muscular com expulsão de esperma. A ejaculação se dá em duas partes, a primeira quando o líquido seminal é liberado pela próstata, vesícula seminal e canal ejaculatório para a uretra; a segunda parte se dá quando a passagem desse líquido da uretra até a expulsão pelo orifício uretral localizado na cabeça do pênis. A mulher logo após o orgasmo pode ser novamente estimulada e iniciar outro ciclo excitatório, essa capacidade de ter múltiplos orgasmos não é vista no homem que em seguida a essa fase passa por um período de relaxamento denominado resolução.


Referencias
Ferreira, ALCG., e cols. Female sexual dysfunctions, FEMINA, vol. 35 (11), 2007.

Dr. Dermeval Reis Junior
Biomédico
Fisiologista - Patologista Clínico

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

FISIOPATOLOGIA DAS INFEFCÇÕES PELO PAPILOMA VÍRUS HUMANO (HPV) NAS CÉLULAS DO COLO UTERINO

A infecção pelo HPV ocorre em mulheres jovens e é tida como uma das mais frequentes DSTs. 20% dos indivíduos sexualmente ativos são portadores desta infecção. Um número considerável e preocupante. 30 a 50 % dos jovens apresentam infecção pelo HPV. Este número sugere que a cada vez mais, jovens que iniciam precocemente a atividade sexual estão mais predispostas ao desenvolvimento de neoplasia intraepitelial escamosa cervical (NIC), ou em outras palavras, malignidade da cérvice uterina. O HPV é um virus de DNA, cujas formas HPV-5 (verrugas), 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59, 68, 73 e 82, são considerados de alto risco oncogênico, com graus II e III de NIC, e câncer invasor. Como já bem sabido, vírus é um parasita intracelular obrigatório, ou seja, só atua caso tenha uma célula para que seu DNA viral seja inoculado nela. Assim sendo, as células mais favoráveis à instalação do vírus são as do colo uterino. Nesta região, há células da zona de transformação, células metaplásicas ou células basais epiteliais. Elas, por si, são células que se proliferam fisiologicamente e ainda possuem menor resistência imune. Tudo que os HPVs precisam para infectarem e se reproduzirem. Além disto, a baixa resistência imune se dá por baixos níveis de citocinas imunológicas IL-2, maior expressão de IL-10 e do elemento facilitador da imunossupressão. Em outras palavras, um ambiente totalmente favorável ao estabelecimento do agente. a ação se dá com a expressão do gene E2 do HPV, com inibição da transcrição gênica do hospedeiro (célula do colo uterino) e causa uma estagnação no ciclo celular (fases G1, S, G2), na fase G1. Isto permite a ação do controlador de integridade do DNA, a P53, que por sua vez, sofre um bloqueio por meio da expressão do gene E6. Isto favorece a atuação do gene E7, que reprime o gene Rb do hospedeiro. Assim, o processo proliferativo é liberado, promovendo a replicação do HPV, durante a maturação das células proliferadas. Assim, em cada célula da cérvice uterina infectada, vários outros vírus, surgirão e agirão com o mesmo processo.  O diagnóstico considerado padrão ouro é o histopatológico (biópsia), que identifica alterações celulares características no trato genital inferior. 

Referências

DORES, GB. Diagnóstico da infecção cérvico vaginal por papilomavirus humano. Valor da colposcopia, citologia e histopatologia como métodos diagnósticos. Tese de Mestrado - Unifesp 1989.
RIBALTA, JCL. Infecções pelo papilomavírus humano (HPV) in: LOPES, AC. Diagnóstico e tratamento Vol. 3, pp.393-401, ed. Manole, 2007.